A questão não parece mais ser se haverá recessão econômica, mas quando ela chegará ao Brasil e como isso deve impactar a vida dos brasileiros. O aperto monetário já desenhava a situação que deve desencadear recessão global.
O cenário econômico mundial apresenta sinais instáveis há algum tempo. Economicamente dependente de países como Estados Unidos e China, o Brasil não sairá ileso. Euforias ou decepções eleitorais à parte, são as estatísticas de um lado e as projeções de outro que assumem caráter pouco animador.
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central durante a 7ª reunião, de manter a taxa básica de juros (Selic) em 13,75%, não foi exatamente surpresa para quem acompanha nossas finanças. Apesar de previsível, dadas as pressões inflacionárias ao redor do mundo e a desaceleração da atividade econômica global, o nível da Selic em dois dígitos desanima e assusta. Com impacto direto na inflação, espera-se que a taxa de juros siga elevada para os consumidores, agravando a situação financeira no país e comprometendo o crescimento econômico brasileiro em 2023.
A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico prevê avanço de 1,2% para o país, pouco menos da metade da projeção mundial (2,8%). Antes, previa que por aqui cresceríamos 2,1% neste ano.
Enquanto no Brasil, especialistas indicam 25% de chance de recessão, nos Estados Unidos esse número sobe para pelo menos o dobro, em período de 6 a 18 meses. Se isso se confirmar, o país deve sofrer período de desaceleração mais forte, o que provocaria série de efeitos negativos, a começar pelo aperto de renda que tem como consequência o desemprego e a perda do poder de compra pela população. Há chance do Brasil não sofrer efeitos tão graves com a recessão se medidas do Banco Central conseguirem conter a inflação e outros números relacionados a emprego e renda. Para que isso aconteça, o governo precisa se empenhar para melhorar a situação da população, investindo na economia, com movimentos que apoiem as pequenas empresas e que sejam geradores de novos empregos. Se não há capital girando no mercado, as pessoas reduzem seus gastos e a economia sofre.
Volatilidade da economia aumenta a incerteza dos mercados. A desaceleração das economias avançadas pressiona os mercados com recursos mais frágeis, caso do Brasil, que ainda sofre as consequências negativas da pandemia, reforçando a desigualdade social no país. Aliada a isso, outras incertezas políticas mundiais, como a sequência do conflito entre Rússia e Ucrânia, ampliam os receios com a economia global, gerando volatilidade e aumentando a cautela do mercado financeiro. É matemático, quando há recessão global, investidores tendem a buscar maior segurança nas aplicações, o que implica arriscar menos e tirar dinheiro de países como o Brasil. Aliás, há poucas opções para investir com segurança, atualmente, em quase todo lugar do mundo.
Como reação negativa imediata à vitória do Lula, as ações da Petrobras tiveram queda acentuada, com perda de valor de mercado superior a R$ 34 bilhões, um dia após o resultado da eleição. Seguindo o mesmo curso, outra estatal listada na bolsa que também sofreu foi o Banco do Brasil, que viu seu valor de mercado tropeçar em mais de R$ 5 bilhões.
Investidores mais otimistas esperam que o ministro da economia aja rapidamente para estancar a sangria de indicadores que ameaçam agravar a crise. O mundo está a caminho de nova crise mundial, pelo menos é o que indica as previsões mais realistas, baseadas no relatório recente do Fundo Monetário Internacional (FMI). Segundo o Fundo, este ano será marcado por recessões, com um terço da economia global passando por dificuldades financeiras. Projetando desaceleração da economia de 2,7% em 2023, o FMI prevê que a inflação deve ficar em torno de 6,5%.
Com a crise mundial, o dólar deve ganhar forças, enfraquecendo as exportações e aumentando a dívida de países em desenvolvimento, como o Brasil, a nível pesado. Tudo que é comprado em dólar se torna mais caro, influenciando diretamente a inflação. O cenário mais temido pelos brasileiros é o da persistência dos juros altos para pressionar para cima o preço dos alimentos e reduzir a demanda por exportações, ameaçando empurrar milhões para a vulnerabilidade. Lula e Bolsonaro sabiam disso e abordaram fortemente o tema da retomada econômica durante a campanha eleitoral com a intenção de angariar votos dos mais preocupados com as previsões.
A economia vai exigir cuidados, resta descobrir agora o que o presidente Lula fará para puxar o crescimento econômico e não quebrar promessas.
Será que Lula reverterá o quadro sem causar decepções?
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