Uma pesquisa do Cpers, sindicato que representa os professores do RS, mostra que 70% das escolas afirmam não ter espaço físico suficiente para garantir ventilação e distanciamento necessários para evitar o contágio do Coronavírus. A comunidade escolar, juntamente com prefeituras, governo do estado e outras entidades, discutem a proposta de retorno com volta às aulas presenciais em 31 de agosto, com turmas da educação infantil. Em pesquisa foram ouvidas 1,7 mil pessoas em 253 municípios. Somos categóricos em afirmar que é muito cedo, não é possível brincar com a vida, porque o ano letivo a gente pode recuperar, agora, vida perdida não se recupera jamais, disse a presidente do Cpers, Helenir Schürer.
Entre os participantes da pesquisa, a maioria dos entrevistados acham que o retorno só deve ocorrer quando tiver uma vacina. Além disso, há a percepção de que as escolas não estão estruturadas para receber os alunos, especialmente na área de higienização e conservação sanitária. Em torno de 81% dos diretores admitiram que não têm número adequado de funcionários para a higienização. Temos escolas com um funcionário apenas, dia 31 de agosto é muito pouco tempo até para fazer contratações. Lembrando que as contratações no estado levam em média 30 dias para serem efetuadas. As escolas estão abertas em regime de plantão, mas entre os que precisam trabalhar, segundo a pesquisa, 70% não receberam máscara. A maioria dos diretores disse, na pesquisa, não ter dinheiro para comprar os equipamentos de proteção. Uma das diretoras de escola estadual, concorda que não é o momento de voltar. A dificuldade está em colocar o protocolo em prática. Não tem material humano, não tem RH, e funcionários para respaldar esse modelo. A pesquisa do Cpers também revelou a apreensão das famílias com o retorno, 84% não pretendem mandar os filhos para a aula antes da vacina. Já 77% acha que a educação infantil deve ser a última modalidade a retornar.
O governador Eduardo Leite afirmou que a sugestão para retomada iniciando pela educação infantil é devido ao cumprimento de dias letivos nessa faixa, mas não é obrigatório. Os pais podem optar por enviar ou não os filhos, observou ainda que o retorno não será precipitado. Ensinos fundamental e médio, os alunos estão estudando por meio remoto, porque as crianças já têm autonomia para acessar as aulas. O mesmo não ocorre na educação infantil, na qual crianças de zero a cinco anos têm pouca condição de terem estímulos e de se manterem atentas por meio remoto. O governador também mencionou que, no caso do ensino privado, pais e responsáveis estão deixando de pagar a mensalidade das escolas, que acabam quebrando. Se as escolas para essa faixa etária deixarem de existir, a rede pública não terá capacidade para suportar a demanda que surgir.
O governo apresentou um calendário com sugestão de datas de retorno às prefeituras, que deverão definir como será a retomada das atividades. O assunto também é discutido com o Ministério Público. Caso os números da doença apresentem piora, o calendário será suspenso e as atividades virtuais serão mantidas, em um modelo híbrido de ensino, com menos estudantes em sala de aula, para garantir o distanciamento.
O infectologista Alexandre Zavascki diz que uma abertura nesse momento é imprudente, porque a curva de casos e de mortes continua crescendo no estado. Para ele, não é preciso esperar a vacina, desde que exista um protocolo rigoroso de controle da pandemia, que deveria incluir a testagem em massa, o que não é feito. Acredita que não vai ser possível. A evolução da pandemia nos próximos dias a partir dessas reaberturas vai ter impacto epidemiológico. É uma situação delicada, porque todos queremos voltar ao normal, mas preservar vidas é mais importante que tudo.
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