Para muitas pessoas, a pandemia deixou de ser o principal problema do país no momento. Com a maioria dos brasileiros vacinados, algumas rotinas do velho mundo estão voltando ao normal lentamente. Mas nem tudo voltará à normalidade em pouco tempo, porque alguns ainda sentem medo da Covid-19 e suas variantes ou porque economicamente estão impossibilitados de se adequar.
Hoje, a preocupação do brasileiro com sua situação econômico-financeira é tão grande quanto ao seu cuidado com a saúde. Uma pesquisa realizada em agosto, com representatividade em todos os segmentos sociodemográficos, mostrou que 32% apontam a saúde como a primeira ou segunda preocupação com o país. Em seguida, as questões econômicas saltam aos olhos. São 31% dos entrevistados que selecionam o desemprego como uma das principais preocupações e 27% mencionam o custo de vida. Esse último dado precisa ser colocado em duas perspectivas dentro das pesquisas de opinião: uma histórica e outra transversal.
Desde 1990, nunca as pesquisas de opinião tinham medido saliência tão alta da preocupação com a inflação pela população brasileira. Nesse período, a percepção da inflação como um dos problemas mais graves nunca superou dois dígitos. Apenas para termos ideia, em março deste ano, 12% dos brasileiros diziam que os preços eram uma das principais preocupações. Atrás de outros problemas, como pobreza, corrupção e educação.
Por outro lado, a pesquisa realizada mostra grande homogeneidade entre os perfis socioeconômicos que citam preocupação com o custo de vida. Não há grandes variações nesse percentual seja entre os diferentes sexos, faixas etárias, níveis de renda, regiões do país ou porte de município. Todos estão preocupados com os preços das coisas.
A grande questão é que como qualquer tema da agenda política, um assunto vira preocupação à medida que ele se torna notável, seja por meio de experiências diárias, ou através dos meios de comunicação. Acontece que ao contrário de alguns problemas, o custo de vida é sentido diretamente no bolso das pessoas e dificilmente há espaço para qualquer intermediação de comunicação.
O leitor deve estar se perguntando, mas então o que está acontecendo no Brasil no momento? Por que, com recorde de 14,8 milhões de desempregados, os preços não param de subir? É que a inflação no país atualmente não está sendo puxada por demanda aquecida por parte dos consumidores, mas por questões que afetam a oferta dos produtos, como a alta do preço dos combustíveis, das commodities, a desvalorização do real em relação ao dólar e, mais recentemente, a falta de chuvas que puxou para cima o preço da energia elétrica.
O Brasil vive atualmente o pior cenário possível, desemprego alto e inflação também. Só não sente o impacto quem recebe os altos salários do governo, chova ou não o vencimento cai na conta sempre!
Texto: João Sibirino
Adaptação: Jornal Minuano
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