O processo inflacionário brasileiro, em 2021, possui três razões principais, uma externa, a inflação, em dólares, dos preços dos produtos relacionados à retomada do crescimento econômico mundial e duas internas, falta de credibilidade na condução da política fiscal e a crise hídrica. A conjunção destes fatores somada à baixa taxa de crescimento nos setores que utilizam mão de obra de forma intensiva, faz com que a percepção do poder de compra no Brasil seja sentida com maior intensidade, principalmente, quando comparada aos países que apresentam recuperação econômica mais acelerada e em diversos setores.
No Brasil, o índice oficial de inflação é o “Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA)”, mensurado mensalmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apresentando a variação do custo de vida médio de famílias das principais regiões urbanas do país com renda mensal entre 1 e 40 salários mínimos, divididos em nove grupos: alimentação e bebidas, habitação e artigos de residência, vestuário, transportes, saúde, cuidados pessoais, despesas pessoais, educação e comunicação.
O indicador não é referente à variação do custo de vida individual porque, cada um de nós, possui cesta de consumo diferente daquela que é adotada pela metodologia do IBGE, por isso, quase sempre escutamos o governo está escondendo a inflação ou a minha é muito maior que a divulgada pelo governo. A variação do IPCA acumulada nos últimos doze meses é de 9,68%, muito acima do centro da meta para 2021 que é de 5,25%.
A perspectiva para a inflação no Brasil em 2021 permanece em alta porque, conforme indicado, os fatores de pressão persistem e, podem ser ampliados. A inflação de custos possui dois componentes e o primeiro é decorrente do aumento em dólares dos insumos de produção relacionados à retomada do crescimento econômico mundial, como as commodities agrícolas e minerais.
O segundo, está relacionado à falta de credibilidade da condução da política fiscal, decorrente do descontrole das contas públicas com a possibilidade de rompimento do teto orçamentário com políticas populistas como a proposta de incremento do programa Bolsa Família e não realizar o pagamento de precatórios. Esta falta de credibilidade estimula a desvalorização cambial porque o risco de não pagamento da dívida pública aumenta.
O Banco Central, eleva a taxa de juro aumentando o custo do serviço da dívida, tornando os títulos da dívida pública mais atrativos com objetivo de evitar que os credores do governo vendam e comprem moeda estrangeira desvalorizando o Real. A desvalorização da taxa de câmbio torna o preço dos produtos cotados em dólares ainda mais altos, aumentando os custos de produção que são repassados para o consumidor final.
O terceiro fator impactante é a crise hídrica, a pior em mais de 90 anos, que além de abalar o consumidor, também toda a cadeia de produção. O consumidor é afetado diretamente pelo aumento no preço da energia elétrica, que nos últimos 12 meses teve acréscimo de 21,08%. A cadeia de produção é afetada pela falta de água, para as commodities agrícolas, pelo aumento de custos da energia para a produção de bens e serviços, também pela possível falta de energia, que contribuirá para redução da taxa de crescimento da economia brasileira.
Pior, existe a possibilidade de a inflação subir ainda mais, ou seja, sair do controle.
Texto: João Sibirino
Adaptação: Jornal Minuano
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