Uma coisa é certa e não tem como negar, o tráfico de drogas é o grande problema do Brasil. Desde os crimes patrimoniais, como furto, roubo, receptação, até os homicídios, tudo decorre do tráfico de drogas, direta ou indiretamente.
Sabe aquele alarmante número de 60 mil homicídios por ano? A maioria absoluta é por causa do tráfico, seja por acerto de contas entre traficantes, por queima de arquivo, por parte do Estado nessa busca desenfreada de resolver o problema apenas com utilização de força, para pagar dívida de drogas e por aí vai. Sem falar do alarmante número de homicídios de policiais.
Inclusive, a grande parte dos nossos crimes patrimoniais, como roubo e latrocínio, por exemplo, estão vinculados ao tráfico, eis que o produto da subtração geralmente servirá para quitar dívidas oriundas do comércio ilegal. Chegamos ao ponto em que o dinheiro do tráfico é lavado em grandes empresas privadas ou públicas, até mesmo igrejas. Sem falar, é claro, do jogo do bicho e outras atividades que são diretamente financiadas pelo tráfico. Tudo isso ocorre por conta das drogas. Só que não falo das drogas em si (maconha, cocaína, crack, lsd), e sim do tráfico e da “guerra” travada contra ele.
As chacinas diárias, a perseguição do Estado aos mais pobres, os tiros a esmo de dentro de helicóptero, os tiroteios, as mortes de “bandidos”, policiais e cidadãos de bem, bala perdida, menores da periferia fora da escola, o genocídio institucionalizado, tudo é decorrente da “guerra” ao tráfico de drogas.
Como podemos resolver essas questões? Com o fim do tráfico ilícito de entorpecentes. Mas será que o fim do tráfico de drogas é obtido com o término do consumo. Ou com o fim da proibição do consumo? Claramente, a resposta está no fim da proibição do consumo e na regulamentação da produção, comércio e aquisição de entorpecentes.
Na minha visão, o maior mal das drogas está na criminalização delas fazendo com que os envolvidos sejam marginalizados, delegando a distribuição dos entorpecentes aos mais frágeis da sociedade e não no efeito causado àquele que a consome.
Os tiros nunca atingem aqueles que efetivamente lucram com o tráfico, muito menos são disparados dentro de condomínios de luxo, pois a seletividade inerente no direito penal só permite a perseguição e o genocídio daqueles que possuem preferencialmente tonalidade de pele mais escura que moram na periferia.
Não podemos acreditar que o mal está na droga como substância, combatendo-as, demonizando-as, sob o argumento de que fazem mal, pois várias outras coisas, como o bacon e o refrigerante, por exemplo, prejudicam muito mais a saúde do que o consumo de determinados entorpecentes, mas nem por isso são proibidos.
Quantas pessoas morrem por dia em decorrência do combate ao tráfico de drogas? Quantas morrem pelo uso das substâncias criminalizadas? Faz sentido mantermos o combate às drogas nos moldes como fazemos hoje? Qual o resultado obtido? As pessoas pararam de vender e de usar drogas? Obviamente, a resposta destas perguntas é não, motivo pelo qual devemos mudar a estratégia que vem sendo adotada.
Devemos pensar, onde está o problema, na substância ilícita ou no genocídio diário, justificado pelo combate ao tráfico? Temos de compreender, também, que o fato de uma substância ser lícita ou ilícita não faz com que seja mais ou menos consumida. O álcool e o tabaco, por exemplo, são substâncias lícitas, mas as pessoas não nascem com lata de cerveja e maço de cigarro nas mãos. Argumentar que a legalização aumentará o consumo é tão frágil quanto sustentar a impossibilidade simplesmente pelo mal que fazem.
Na realidade, ao demonizarmos as drogas, ao invés de entendê-las, caímos no objetivo daqueles que, hoje, nos governam, que é tirar o foco dos reais traficantes, daqueles que verdadeiramente lucram com as drogas, os quais, engravatados, riem da nossa cara a cada morte decorrente do tráfico de drogas.
Se não querem que as pessoas usem drogas, lícitas ou ilícitas, eduquem melhor os seus filhos e sejam mais presentes em suas vidas, pois não é a criminalização que afastará as pessoas do uso de entorpecentes. Inclusive, é possível associar a descriminalização e regulamentação com a diminuição do consumo.
Somos hipócritas o suficiente para apontarmos o dedo para a favela, apoiando chacinas diárias, mas, escondidos, tomamos calmantes, relaxantes musculares, dentre várias outras drogas legalizadas todos os dias, com o mesmo objetivo daqueles que utilizam as ilícitas, nos entorpecer. O problema, então, está na criminalização ou no ser humano? Uma coisa é certa, a criminalização das drogas e as medidas de combate não vêm resolvendo nada! Pelo contrário, só fazem aumentar a violência.
Lamentavelmente, Santa Bárbara do Sul está perdendo cidadãos para as drogas coordenados por traficantes!
Comments