A pandemia tem sido comparada a uma guerra contra o Coronavírus. Este inimigo, na verdade, faz parte da natureza. Não é inimigo nem amigo. A pandemia em si decorre das nossas condutas, o ser humano é causa e consequência desta doença. Assim, mais apropriado seria utilizar a figura do “pecado”, nós desrespeitamos a natureza e provocamos a pandemia. De um lado, nossa pretensa autossuficiência impediu que déssemos ao Planeta Terra, a sua vida e a seu ecossistema o tratamento que deve ter, respeito e reverência acima de tudo.
O Planeta Terra, sua flora e fauna são nossa morada, da qual depende a existência e sobrevivência. A ofensa aos limites da relação simbiótica entre todos os seres viventes tem causado diversos danos às próximas gerações de Homo Sapiens e também à atual. A pandemia talvez seja o exemplo mais marcante, contemporâneo e perverso. Por outro lado, a doença do Coronavírus, se abate sobre uma sociedade global marcada pela desigualdade entre os governantes. Desigualdades entre países, cidadãs e cidadãos de um mesmo país.
O que parecia ser uma doença democrática, escancarou a diferença de vida, sobrevivência e atendimento ao mínimo essencial entre os seres humanos. A desigualdade se fez sentir no seu extremo e em todos os critérios de análise, obrigatoriedade de sair para trabalhar, exposto à doença especialmente nos transportes públicos, perda de emprego à ausência de estrutura educacional, falta de alimento à demora no atendimento de saúde.
No aspecto social, a pandemia mostrou seu lado mais cruel. Tampouco os governos, quando chamados, foram capazes de responder prontamente. Autoridades despreparadas, ou influenciadas por interesses diversos tardaram a reverter a situação de calamidade que nós mesmos provocamos. Também as autoridades têm seus próprios interesses, assim como cada um de nós e cada uma das corporações. Alguma solução, então, não estará em derrotar um inimigo externo, mas em converter a conduta do interno. Tal solução deve vir de abordagem global, pois a doença atingiu o ser humano, independentemente de fronteira, cultura ou crença. De qualquer modo, alguma solução não será dada pela ciência, ao menos, não de forma duradoura. A ciência é, sim, a solução de curto prazo para combater os sintomas, causas imediatas da Covid e evitar a sua proliferação.
A explicação científica de que o ser humano se reduz a um conjunto de reações químicas contribuindo para impedir resposta completa, definitiva à pandemia e a redenção virá com o resgate da humanidade. Certamente, o mundo não será melhor se voltar ao que era antes da pandemia. O regresso à normalidade, pré-pandemia não é apenas inviável em razão das profundas transformações por que passamos, especialmente com relação à tecnologia. O regresso anterior é inviável se quisermos perpetuar a espécie humana. O novo normal já contempla o home office e delivery. Porém, deve contemplar o temor reverencial ao meio ambiente e a consciência para práticas que reduzam substancialmente a desigualdade social, que fortaleçam a dignidade humana no seu mais amplo entendimento.
Os fatores ESG estão circunscritos às organizações empresariais, o que indica a existência de outra forma de atuar e de conduzir o mercado, de gerir os investimentos e desenvolver as relações econômicas para citar apenas alguns revolucionários do passado e do presente. Esse novo capitalismo deve extrapolar o âmbito individual das corporações para orientar a gestão macroeconômica. Por óbvio, o caminho pós-pandemia não será fácil.
Entretanto, não podemos ignorar o alerta, milhões de mortes pela Covid e regressarmos à antiga normalidade. É preciso restaurar a dignidade humana de todas as pessoas. É preciso nos submetermos ao meio ambiente. Esses propósitos devem ser perseguidos por governos, repartições e por cada um de nós, seres humanos.
Texto: João Sibirino
Adaptação e foto: Jornal Minuano
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