Os números confirmam o que salta aos olhos nos grandes centros urbanos de todo o país, com o aumento expressivo de pessoas em situação de rua. De 2012 a 2022, o número de domicílios brasileiros na faixa das classes D e E, renda mensal de até R$ 2.800, passou de 48,7% no início do período, para 51%.
Considerando um total de 74 milhões de domicílios, isso significa que 1,7 milhão tiveram redução de renda em 10 anos, período marcado pela maior recessão da história do Brasil, em 2015 e 2016, e pela pandemia de Covid-19, a partir de março de 2020 até agora. Ainda usando o cálculo estatístico de uma média de quatro moradores por domicílio, chega-se à população de quase 7 milhões de brasileiros que decaíram socialmente.
É uma situação totalmente diversa da vivida pelo país no início dos anos 2000, quando 29 milhões de brasileiros emergiram das classes D e E para a C. O avanço, registrado entre 2003 e 2009, se perdeu nos anos posteriores e, hoje, o país se encontra em situação dramática do ponto de vista de empobrecimento da sua população. O arrocho seria muito maior sem o auxílio emergencial, pago no início da pandemia em valores mais altos e, agora, na faixa de R$ 400, recebidos por cerca de 17 milhões de famílias, que representam contingente de 68 milhões de brasileiros.
A alta mudança pode ser traduzida pela forma como o benefício é definido. No contexto de desemprego baixo e crescimento econômico, o auxílio do governo como Bolsa Família chegou a ser taxado de esmola e de incentivo à preguiça. Agora, é visto como urgente e necessário para evitar que o país chegue perto do quadro de convulsão social.
Há números que reforçam a urgência com que é necessário começar a pensar em formas mais firmes e duradouras de reversão desse quadro. Hoje, há cerca de 19 milhões de brasileiros que convivem cotidianamente com a fome e existem mais de 220 mil pessoas, números de 2020, em situação de rua no país, um total de 140% maior do que o registrado em 2010.
Por trás desse enorme contingente de brasileiros em extrema pobreza, estão problemas de saúde, educação, saneamento e moradia. Com previsão de avanço do PIB próximo a zero, a conjuntura não será alterada no curto prazo, com o risco de que se agrave ainda mais. Não havendo perspectiva no curto prazo, a sociedade brasileira, empresas e organizações, devem cobrar dos governos, em todos os níveis, medidas para barrar esse empobrecimento continuado da parcela menos favorecida da sociedade. Com tanta gente alijada do processo de crescimento econômico e social, o Brasil fica estagnado, enquanto vê outros países avançarem.
Governo e Congresso vão concentrar esforços em medidas que se transformem em votos nas eleições de outubro. Mas é preciso que, assim como se estabeleceu auxílio permanente, busque formas de garantir emprego e renda para essa parcela da população, sob pena de chegar a 2023 com os problemas ainda mais agravados. Isso exigirá mais gastos orçamentários e horas de trabalho para remediar desafio que só será resolvido se for atacado com coragem, para que toda a sociedade perceba que a redução da miséria é fator de desenvolvimento econômico.
O certo é que os governantes devem viabilizar acesso de investimento para empresas privadas, a fim de gerar empregos decentes em vez de benefícios básicos. Conta que todos devem pagar sem retorno algum!
Texto: João Sibirino
Adaptação: Jornal Minuano
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