Com o cenário político radicalizado e ainda ter capacidade de construir consensos é uma atitude valiosa e determinante para romper a paralisia do debate ideológico. O ponto de vista pragmático e a habilidade de convergir não significa eliminar divergências e oposições, mas ter à disposição de conviver com todo tipo de interesse e ideias, em busca de soluções mais razoáveis.
Este tem sido o espírito do Consórcio de Integração Sul e Sudeste, a união de governadores de sete Estados, representa cerca de 70% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. A união serve justamente para convergir, somar capitais políticos e dar respaldo institucional à realização das reformas que necessitam os executivos estaduais. É mais do que uma aliança tática, juntos terão objetivos estratégicos e compor uma frente de gestores que enxerguem para além dos atuais mandatos e encontrem soluções consensuais e duradouras.
Óbvio que não concordamos, automaticamente, em todos os pontos. Os desafios são tão urgentes que não podemos nos apegar a inseguranças. Um exemplo está na posição do Consórcio de Integração Sul e Sudeste a respeito da Medida Provisória 868, a chamada MP do Saneamento, que perdeu a validade, mas o teor foi recuperado em projeto de lei aprovado pelo Senado. Em recente encontro do Consórcio em Gramado, foi produzido e assinado uma carta em que defendem o alcance das medidas propostas no novo marco regulatório do saneamento, ainda que sem a concordância completa de alguns Estados. Isso é saudável e democrático, divergir para construir.
Mesmo ponderando alguns aspectos, os governadores sublinharam a concordância com a maior participação do capital privado nos investimentos necessários à universalização de serviços como o de saneamento, indicando que mesmo diante da impossibilidade de um apoio completo é possível encontrar pontos de entendimento. É assim que devem conseguir somar energias e avançar, criando um novo ambiente para destravar o Brasil.
É base da aliança construída em torno do Consórcio a compreensão de que devem ao país uma convergência governo-sociedade e setor produtivo que seja ampla, concentrada não apenas nas circunstâncias atuais de uma recessão, mas que seja capaz de dar à nação um projeto de desenvolvimento que não se esgote no espaço temporal dos eventuais mandatos. No caso das medidas previstas para o saneamento, entende-se que elas oferecem oportunidade na direção, ao mudar o cenário de infraestrutura básica, permitindo novas modelagens financeiras.
Ao consolidar o modelo de blocos regionais para a prestação de serviços, o novo marco regulatório do setor também reforça a ideia de colaboração na gestão pública, o que dá segurança aos investimentos do setor privado. O modelo vigente na área, com empresas estatais, é falho, diante do esgotamento fiscal e dos entraves da burocracia. Por outro lado, a iniciativa privada tem apetite e opera com ganhos de eficiência. Mais recursos privados melhoram a vida das pessoas e, a curto prazo, geram empregos e destravam o país. Esta compreensão não depende de ideologia, mas sensibilidade e vontade de querer fazer o que tem que ser feito. Não existe ninguém capaz de contentar a todos ao mesmo tempo, mas é preciso dar oportunidade e acreditar que tem que dar certo.
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