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  • Foto do escritorRedação JM

Inveja, dificuldade que o ser humano enfrenta!

A dificuldade que o ser humano enfrenta ao lidar com a verdade tem na inveja um grande representativo. Enquanto invejoso, o sujeito fica impedido de estar de acordo com a verdade, obstruindo a experiência necessária da busca constante por ela. O sujeito quando mente nega a verdade, ao passo que a inveja o força a vê-la com maus olhos. O grande problema na procura por estarmos de acordo com a verdade é que quando se reconhece a mesma, isso ocorre sempre na perda de uma ilusão.

A inveja revela-se elemento natural do desenvolvimento psíquico e que mediante a um cuidado dedicado, deve evoluir para modelos mais amadurecidos de funcionamento mental. Por fazer parte do processo natural do desenvolvimento e como é próprio dos sentimentos, também com a inveja não existe escolha quanto a sentir ou não, tão somente se sente. De tal modo, a partir de então, conforme as experiências bem ou mal sucedidas, pode se tomar consciência disso, ou não. Os possíveis desfechos que se possa ter a partir da experiência de se sentir inveja estão ligados ao grau de desenvolvimento da maturidade emocional, que por sua vez depende diretamente da capacidade de tolerar frustrações, na tomada de consciência. Quanto maior for a capacidade de tolerar o desconforto gerado pela falta, tanto maior a disposição para a tomada de consciência da realidade.

A inveja, quando ainda não consciente divide-se em duas etapas, onde o segundo estágio pode seguir, por sua vez, duas outras vertentes. A inveja parece ser marcada pela admiração que se possa ter por alguém, em seus atributos, sem que se acredite ser possível desenvolver em si próprio essas qualidades admiradas. Essa experiência de admiração sem capacidade parece caracterizar-se como uma primeira fase. Daí por diante alguns prováveis desenlaces podem ocorrer, numa segunda fase da experiência. A depreciação do objeto admirado, no olhar torto, ou ainda, num mau-olhado. Na tentativa defensiva de se livrar do sentimento desconfortável de desejar (necessitar) muito algo, do qual não se acredite ser capaz de conseguir por si mesmo, o sujeito, então tomado pelo ódio, menospreza o valor disso, tentando apaziguar a sensação desconfortável. A crítica, muitas vezes com a pretensão de ser construtiva é um bom exemplo disso. Por outro lado, como que numa paixão cega, pode haver a tentativa voraz de sugar tudo que o objeto admirado tenha de bom. No intuito de esvair, esgotando o objeto de tudo que seja desejável. A bajulação é um exemplo disso, no que popularmente chamamos de puxa-saco. Assim como na crítica, por de trás da bajulação esconde-se a inveja. Quando a inveja acomete o sujeito que não é capaz de percebê-la e com isso responsabilizar-se por esse sentimento, deve ocorrer a repressão, resultando ou na depreciação ou na voracidade. Fica claro que essas duas situações são permeadas pela incapacidade de tolerar a frustração gerada pela ausência do que se necessita ou deseja.

Na possibilidade da tomada de consciência, abre-se um terceiro caminho no desenlace da experiência da inveja abrindo-se a oportunidade de expansão da inveja em modelos mais nobres de elaboração mental. No entanto, a qualidade do vínculo que se possa estabelecer com o sujeito invejado é fundamental para que seja possível essa experiência. Quando se admira alguma característica em alguém, pode se estabelecer um vínculo onde, a partir do desenvolvimento do amor e da sinceridade, o sujeito pode passar a desenvolver essa capacidade, ora invejada, ou ainda pode se estabelecer certa parceria, onde um deve auxiliar o outro naquilo que ele não seja capaz de fazer sozinho. Assim, se desenvolve a gratidão, que deve estar sempre permeada pela generosidade. Mas, a inveja está longe de ser uma qualidade individual, sendo então uma característica do vínculo, que só irá manter-se na relação em que as partes compartilhem desse sentimento. O sujeito invejado só pode ser atingido pelo invejoso, tanto com as tentativas de depreciação, quanto nas vorazes de ser esvaído por ele, através do interesse que se possa conservar no que o invejoso sente ou pensa. Na medida em que o sujeito se desinteressa ou ignora pela relação, a inveja perde a força até se desfazer.


 


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