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Foto do escritorRedação JM

O que nos move?

A cada dia que passa somos confrontados com as mais diversas situações e desafios que nos obrigam a inevitáveis ajustamentos nos quais as nossas fragilidades humanas, pessoais e profissionais são colocadas à prova, obrigando-nos a lidar com as angústias/ansiedades, emoções e perdas de liberdade. Não só nossas como dos outros, afinal somos humanos, mas também os psicólogos, carregam toda uma história de vida, como qualquer outra pessoa. A prática profissional exige que sejam proativos, responsáveis e profissionais.

Surge situação de crise e o psicólogo, pelas mais diversas razões, sejam elas reais ou meramente políticas, é chamado a intervir. Com as forças e vulnerabilidades, lá se vão, a adrenalina e as expectativas face ao cenário que encontrarão começam a apoderar-se do pensamento e do corpo. O espírito de missão, consciência, ética e moral, alertam para a eminência de que alguém está em sofrimento, precisa rapidamente voltar as suas rotinas para dar curso à vida e restabelecer o seu equilíbrio psicossocial. O saber ser ou fazer e estar é revisto em cada gesto, palavra e ação deliberadamente ou não realizados no terreno da ciência.

Ainda a pandemia Covid-19 começava a dar os primeiros sinais, fomos assolados com medidas, restrições e serviços suspensos. Algumas instituições não querendo deixar de estar na linha da frente em face ao semblante humanitário que defendem, começaram a ponderar a agilização de ações aos mais diversos níveis. Algumas vezes chamados a planificar em conjunto com os órgãos institucionais, outras foi indicado o que teriam que fazer e vimos a autonomia profissional uma vez mais esquecida.

Pois bem, é no seguimento de tudo isto que, enquanto a psicóloga numa instituição, foi lançada para linha telefônica de apoio psicológico. A experiência já havia alertado que nem sempre é fácil impormos os pontos de vista, já nem referimos aos pessoais, mas enquanto profissional assumiram que se calar não começam da melhor maneira e a prestação de serviço requer rigor ético e deontológico e mais do que um porque sim, pode ser o mote para conflitos desnecessários.

Porém, o dever profissional impõe-se e o foco no que realmente importa e em quem mais precisa, obrigam à prestação de serviço que cumpra os objetivos para que foi criado e a colocação em primeiro plano da pessoa que está em sofrimento psicológico sobrepõe-se a tudo o resto nem que seja temporariamente.

Mas não estará na altura de quebrar o plano temporariamente. Os últimos meses têm servido para refletir novas realidades e desafios profissionais, e o colapso de equipes técnicas e de cuidadores formais e informais em instituições levando ao terreno da Covid. Perceber o quanto é difícil para os profissionais lidar com seus anseios e das pessoas que carecem dos seus cuidados e, mesmo assim cumprirem horas a fio a sua missão, despertou a clara necessidade de consciencialização para o autocuidado e priorização do “eu”, assim como a saúde mental, classificação e funções do psicólogo numa instituição. Não basta ser apenas alguém que chega de fora e que vem apagar o fogo.

A valorização do psicólogo e seu trabalho nos diferentes contextos, a dignificação do seu serviço e a prática profissional, das quais não abdica e que acredita que é isto que move o ser humano.


 


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