Metade dos jovens deseja sair do Brasil. Este é o resultado de pesquisas recentes que mostram que grande parte dos jovens brasileiros sairiam do país onde nasceram para viver experiência internacional. Os jovens entre 15 e 29 anos pensam desta forma.
De acordo com dados publicados recentemente no Atlas das Juventudes, 47% dos 50 milhões de jovens nesta faixa etária estariam dispostos a sair do país. Os resultados obtidos foram cruzados com números colhidos em outros estudos efetuados pela FGV Social e pelo IBGE. Esse resultado se justifica por muitas razões. Entre elas, o Atlas aponta que os jovens foram os que mais perderam renda desde o começo da pandemia do Coronavírus. Após o começo da pandemia, o índice de desocupação dos mais jovens brasileiros chegou a 56,3%.
Outro dado importante mostra que as pessoas nessa faixa etária são as que mais têm sofrido com o aumento da desigualdade social brasileira. Considerando o Índice de Gini (que mede o padrão de desigualdade), entre os jovens de 15 a 29 anos, a desigualdade cresceu 3,8%. Em relação ao restante da população, o índice é de 2,7%.
Segundo a pesquisa, atualmente, mais da metade dos jovens (51,9%) enxerga o Brasil como um país pobre e essa percepção tem aumentado nos últimos anos. A mudança de visão também pode indicar um ponto positivo, disse a coordenadora do Atlas das Juventudes, Mariana Resegue. Se os dados revelam enorme frustração com um país que não cresce, eles mostram também que os jovens estão despertando para a realidade atual. Isso, segundo ela, poderia indicar que os jovens, a partir da frustração, podem se tornar mais conscientes politicamente e socialmente. Entretanto, também é preciso haver meios de canalizar a frustração para transformá-la em ação e mudança.
Além destes dados, existe mais um indicativo das pesquisas que chama bastante atenção. Há uma parcela da população jovem (27,1%) que não desempenha nenhuma atividade, ou seja, não trabalha e não estuda. Estes jovens, que se encontram sem perspectiva de trabalho ou de estudo, têm sido chamados de “nem-nem”.
As principais motivações para que os jovens brasileiros pensem em deixar o país e imigrar são: falta de perspectiva profissional e financeira para os próximos anos; dificuldade de encontrar trabalho atinge 70% dos jovens; sensação de insegurança, percepção de violência e insatisfação com o gerenciamento do país.
Esse altíssimo número de jovens que sairiam do país chama atenção especialmente em momento em que, segundo os dados, o Brasil vive o seu bônus demográfico. Isso quer dizer que o país tem maior número de pessoas em idade ativa em relação a crianças e idosos.
Em momento de crescimento econômico, o país poderia se beneficiar da quantidade de jovens com idade e disposição para entrar no mercado de trabalho. Entretanto, nas circunstâncias atuais, especialistas apontam que a saída de jovens em idade de trabalho seria desperdício para as possibilidades de crescimento.
Em futuro não muito distante, o Brasil sentiria as consequências da perda de crescimento que teria, caso conseguisse aproveitar o potencial produtivo da população mais jovem. O começo e a extensão da pandemia foram responsáveis por piorar situação que já existia, tanto em relação ao mercado de trabalho, como em referência ao afastamento da sala de aula. As dificuldades para a implementação da educação on-line e do teletrabalho ficaram mais evidentes em um país como o Brasil, em que há muita desigualdade.
Os jovens que não têm acesso fácil à internet, por exemplo, ficaram ainda em maior desvantagem para poder avançar os estudos. E o mesmo acontece com jovens em idade de trabalho, que ficaram mais distantes das oportunidades de emprego.
Segundo a pesquisa, é preciso pensar em soluções, que podem passar por acordos com empresas a fim de reforçar a educação dos trabalhadores mais jovens. Além do aumento da desigualdade devido às oportunidades diferentes de aprendizado entre ricos e pobres na pandemia, os 3,5 milhões de jovens que saem do ensino médio todo ano estarão, desta vez, menos preparados para o mercado. Se não forem implementadas políticas públicas relacionadas ao mercado de trabalho, os jovens que possuem menos qualificação estarão destinados a futuro pouco promissor.
Portugal é um dos destinos preferidos pelos jovens que querem imigrar e tentar nova vida. São vários os motivos que fazem com que o país esteja entre os preferidos, a proximidade da língua e o nível de segurança são alguns deles.
Enquanto isto, candidatos que já tiveram no poder pregam a reconstrução do Brasil. O que fizeram quando ocuparam o cargo?
Texto: João Sibirino
Adaptação: Jornal Minuano
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